Foto: Guga Melgar
Na arena do Espaço SESC, a peça O que eu gostaria de dizer, dirigida por Marcio Abreu, apresenta três unidades de espaço, delineadas por esculturas cenográficas de Cláudio Alvarez. Cada um desses espaços é ocupado por um dos atores. A partir desses pequenos universos, três personagens se expressam e, direta ou indiretamente, se relacionam. Dos três espaços, um fica mais afastado: é a sala do personagem de Luis Melo, com poltrona, almofada, mesa de cabeceira, rádio, apoio para os pés. Os outros dois estão mais próximos entre si, embora separados: formam a casa de um casal em vias de separação. O espaço de Bianca Ramoneda é ocupado por uma cadeira, duas malas e um abajur, enquanto o de Márcio Vito contém apenas uma miniatura de veleiro, um banquinho, uma lata de lixo e uma lâmpada. As esculturas são formadas apenas pelo que seria a ossatura de um espaço fechado - os contornos estão traçados, mas não há paredes. Assim, o cenário cria certo isolamento para cada personagem, mas os mantém dentro do mesmo campo visual.
Essa disposição cênica provoca uma convivência entre aqueles personagens, que pode ser mais marcante nos momentos em que eles não contracenam diretamente: a subjetividade vasa por aqueles espaços sem limites concretos - e aqui me refiro tanto ao espaço da cenografia quanto ao espaço da atuação. As imagens que se formam a partir do trabalho de um ator com seu texto ganham sentido na medida em que elas são afetadas pela presença dos outros atores e pelas imagens sugeridas pelos outros textos. O personagem de Luis Melo parece não ter relação direta com o casal (em alguns momentos eles parecem vizinhos). No entanto, quando ele menciona a falta que sente de determinada mulher, é possível ver a personagem de Bianca Ramoneda como essa mulher de quem ele sente falta. Não digo que ela seja literalmente essa pessoa, mas ela é, certamente, a imagem de uma mulher de quem um outro homem vai sentir falta. Assim se aproximam também os personagens de Luis Melo e Márcio Vito: um homem sozinho e um homem prestes a ficar sozinho. Não se trata de dizer que eles são o mesmo personagem, mais velho e mais novo. Eles se aproximam pelas questões subjetivas com as quais estão lidando, a memória, a saudade, a solidão, a questão do lugar, do pertencimento (que é também um assunto na situação da personagem de Bianca Ramoneda). Eles não precisam "contracenar" para que haja um diálogo entre seus personagens. A encenação propõe um diálogo de sentidos, não de falas.
Essa disposição cênica provoca uma convivência entre aqueles personagens, que pode ser mais marcante nos momentos em que eles não contracenam diretamente: a subjetividade vasa por aqueles espaços sem limites concretos - e aqui me refiro tanto ao espaço da cenografia quanto ao espaço da atuação. As imagens que se formam a partir do trabalho de um ator com seu texto ganham sentido na medida em que elas são afetadas pela presença dos outros atores e pelas imagens sugeridas pelos outros textos. O personagem de Luis Melo parece não ter relação direta com o casal (em alguns momentos eles parecem vizinhos). No entanto, quando ele menciona a falta que sente de determinada mulher, é possível ver a personagem de Bianca Ramoneda como essa mulher de quem ele sente falta. Não digo que ela seja literalmente essa pessoa, mas ela é, certamente, a imagem de uma mulher de quem um outro homem vai sentir falta. Assim se aproximam também os personagens de Luis Melo e Márcio Vito: um homem sozinho e um homem prestes a ficar sozinho. Não se trata de dizer que eles são o mesmo personagem, mais velho e mais novo. Eles se aproximam pelas questões subjetivas com as quais estão lidando, a memória, a saudade, a solidão, a questão do lugar, do pertencimento (que é também um assunto na situação da personagem de Bianca Ramoneda). Eles não precisam "contracenar" para que haja um diálogo entre seus personagens. A encenação propõe um diálogo de sentidos, não de falas.
Autor: Daniele Avila
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